Wednesday 25 August 2010

Queria Voltar Para Casa



Pertencer ao seu par, ficar protegida. Mas tinha que sair todas as noites. Dispensava os telefonemas, sumia na noite, misturava-se entre os notívagos e os inquietos, entre os boêmios e trabalhava pelas noites todas afora dispensando a sua própria casa. Sentia falta da casa e ao mesmo tempo desprezava aquele lugar monótono. Não tinha um par, culpava a singularidade do seu momento, assumia que não conseguiria se dedicar a um duo, e ainda assim queria voltar para casa. Quando estava fora de casa, pensava em quem estaria em casa naquele momento. Assim que punha os pés fora de casa, pensava no que havia esquecido dentro do lar e hesitava em continuar no passo apressado, em frente. E quando passava horas fora do lugar onde somente a sua chave trancava, e mais nenhuma outra, no seu local de proteção daquela obsessiva exposição. O tema era apenas a falta de uma cópia útil. Se perdesse aquele molho de objetos, teria que chamar o Seu ou São Sebastião arrombador de portas, o chaveiro da vizinhança. Sentia falta da primeira casa, da segunda, da terceira e já não sabia se queria voltar para a quarta. O que seria uma casa? Titubeou ao responder, ponderou, teria conhecimento da denominação da palavra? Saberia desenhar um significante da mesma, porém, e o significado? E ligava para todos que estavam em casa em um domingo noturno para que saíssem com ela. E vivessem e esquecessem o opressivo pensamento de uma casa.