Sunday 15 August 2010

As Lembranças




Em sono quase dormindo, em um olho que já não mirava mais nada naquela madrugada, eram avulsas. Era somente uma pálpebra aberta, unindo objetos de imaginação sem sentido. Árvore e um balanço de corda em galho espesso, rede na varanda, cor de laranja, paredes cor de cal. A umidez ao redor do olhar, fruto de um esfregado apertado de sono. E, num súbito de lembrança real, veio à mente a gargalhada mais alta que deu naquele dia, aquela antes da hora de deitar. Alguém que tinha apertado no parte mais sensível do seu corpo, provocando uma excitação que poderia ser confundida com uma cócega caso o indivíduo sentisse isso. A lembrança boa e real que fazia o olho sonolento apertar por um sorriso repentino. Sorriso de lembrança do ápice de um dia. E o sono veio junto com sonhos estranhos de bolas de futebol e daquele bêbe sufocado no plástico por falta de cuidado. E após o não salvamento daquela criança, outro homem qualquer viria e por trás faria um outro ser. Somente por fazer, por ter esperma, por poder fazer um xy como ele, ou um xx novamente. Sonhos absurdos que continuavam como abacaxis e jacas flutuantes exalando cheiro de maturidade frutífera. E carros que não engatavam, ou cachorros que não andavam em meio ao banquete farto da família ao domingo de chuva. Todos dentro das paredes cor de cal, olhando a corda molhada do balanço na árvore pela janela. E lamentando o infortúnio do bebê morto por falta de cuidados. E assim, o olho em movimento rápido tinha a fase onírica mais vívida para acordar sem nada entender no dia seguinte. Ou para simplesmente esquecer o que tinha vivido durante a noite em consciência ordinária. Por ter sido o sonho pleno da emoção muito forte. Muito mais forte do que o dia anterior com o ápice de uma única e rara gargalhada.