Sunday 8 August 2010

Corria



De tudo. Do passado torto, da toxina alcóolica, do menino que queria comê-la. Correndo assim, tanto, estava sempre suada, molhada, não apresentável. Ensopada de suor poucos a respeitavam. Quem não sua oferece mais comforto aos olhos do outro. Por não suar e conseguir com pouco esforço. Mas, correr era uma delícia. Ir rápido, ao encontro de esquinas, portas, labirintos, mesmo que todos ainda não oferecessem saída. Curiosa e ativa. Arfava querendo livrar-se de tudo, não de todos. Cinco quilômetros ainda ofereciam uma resistência ao corpo, e queria chegar aos dez, quinze. Corria para renovar as células, acelerar o pulso, incitar um movimento cardiovascular mais apaixonado. Pouco importava a pele flácida balançando, a olheira de esforço contínuo. Após a corrida, estava nova, em folha nova. E podia escrever outra estória, de pele corada e células ululantes de jovialidade e esperteza. Corria para saber que se desse errado de novo, pelo menos se salvaria correndo para bem longe.