Monday 21 November 2011

Ouvia A Canção De Inês



Em pura madrugada em meio ao... Ou melhor... Em meio, não!: dentro e no centro do descrédito. A canção de outra não era fácil para embalar um sono e, ainda assim, era tão próxima que ninava. Mas, a canção era apenas o pano de fundo do descrédito pessoal e da falta de confiança furtiva, pichada à tinta. Pano de fundo para a cobrança antecipada do agiota de sentimentos, que mudou de idéia e pediu de volta o empréstimo. Pediu de volta o brinde de união. E não satisfeito levou junto na coleta o sorriso, o ronco cansado à noite, a chamada, a curiosidade diária e sentimental, a amorosidade, os detalhes dos defeitos, o som da voz, o pulsar nervoso e apaixonado na laringe, o suor do corpo e o olhar de aceitação. Negou o empréstimo, afinal 'nunca havia acontecido' e disse que aquela tal de Inês, dona da música, tinha pedido todo o que havia sido emprestado pagando por tudo um valor muito maior. Sentimentos, sentimentos... Negócios à parte. E ainda, a Inês precisava mais do que ela. Então, ouvia a canção pensando no descompromisso com a educação que havia naquele lugar. Não havia mais a educação de se ouvir a voz do outro. Limou a comunicação. Somente poderia ouvir-se bem agora a canção, naquele rádio ao longe. E bem calada. Estava quase muda de não ter voz e fez-se uma promessa. Nunca mais aceitaria os empréstimos de sentimentos embrulhados em belos pacotes, por mais ínfimas prestações que esses tais pudessem ter. Deveriam ainda existir doadores sãos por aquele lugar, ou por um lugar próximo daquele. No mais... Ou melhor dito: no menos, no negativo, o que sobrou foi a canção.

Thursday 1 September 2011

Alguém abre esta porta?



O fato de se estar presa, em um lugar ou situação, pode ser uma comédia ou uma tragédia. Melhor que seja, no todo, uma coisa sem muita importância........

Tuesday 23 August 2011

SiLênCio!



amigos que andavam fazendo arte em silêncio pela estrada, resolveram fazer algum barulho juntos... DUO+

Tuesday 1 February 2011

Há Sempre Uma Luz No Fim Do Túnel



É simples
Azul como a companhia de tu
Tudo se resolve em si
Depois do desespero o
Que fica nú
É a luz

Nada meio termo
Nada pouco esmo
Se sóis rés
Se és revés
O ritmo três (um, dois, AH!)
Por favor, mais uma vez

Solta uma luz
Vira, dá um plus
Presea en el amor
C'est finie la douleur
Aparece com definição
Acaba esse bater com a mão

Na subida vem o chão
Na subida vem a intenção
Pouco ou muito, o que sobe
É o que se enobre
Tua vez, ou não
Sobe, meu irmão!

Thursday 16 December 2010

Senseless Linen!



Shakespeare's 'Cimbeline' extract _ Seen on video_ João Grembecki: Maria Sobral: Brian Stirner - RADA, UK.

Happier therein than I.
And that was all?
Thou shouldst have made him
As little as a crow, or less, ere left
To after-eye him
I would have broke mine eye-strings, crack'd them, but
To look upon him
I did not take my leave of him, but had
Most pretty things to say
Or ere I could give him that parting kiss
Betwixt two charming words, comes in my father
And like that tyrannous breathing of the north
Shakes all our buds from growing
Those things I bid you do, get them dispatch'd
I will attend the queen

Thursday 14 October 2010

'Preste Se Ao Seu Ofício'



câmera_ Niti Merhej, Fabio Almeida._. vozes_ Grupo de Videopoesia Casa das Rosas

'Você é um corpo, nada mais que um corpo. Abstenha se dessa emoção, dessa busca por compaixão, busca pela humildade alheia. O seu ofício é ser um corpo que obedece ao comando de algo que talvez nem entenda. E nem deve entender, somente obedeça'. E o corpo subia e descia, rodopiava, encolhia, contraía, expandia e movia se seguindo às ordens. Não havia ninguém ali, o algoz era imaginário, porém criativo. O corpo queria a criatividade e submetia se ao que viesse pelo caminho. Ainda que o nó no pescoço esteticamente fosse perfeito, a sensação sufocava. Queria falar, e 'não pode falar. você não está aqui para isso'. E o modelo vivo na aula de arte era somente um corpo escolhido entre tantos outros para ser um corpo. Ao fim de 35 minutos de exposição, o corpo, com sorte, teria o oferecimento de um café por parte de um dos seus observadores, para continuar por mais 35 minutos outra rodada de exibição silenciosa. Desta vez, uma menina mais doce ofereceu um chá verde com ginseng. 'Uma bomba de energia natural', ela advertiu. Ele tentou o diferente, experimentar a solicitude ao invés do esporro. Ficou contente, o chá revigorou com mais certeza, por ter sido oferecido com mais amor. Entendeu o valor do sentimento sólido, que preenchia. Quis mais, e aí pode falar. Disse que queria 'mais'. 'Vamos nos ver outra vez? Mais um pouco?', pediu. Recebeu um olhar e um sorriso que não expressavam nem um 'talvez'. Simplesmente, evocavam contentação sem resposta. Jogaram os copos plásticos no lixeiro'plástico'reciclável e voltaram às suas posições tendo como meio de ligação o corpo. O corpo que pertencia a ele, o corpo que ela observava e desenhava com atenção. Somente um corpo. Sem emoção, sem olhar, sem nada o que dizer. Somentesó um corpo.

Wednesday 13 October 2010

Dirigia A Vida Dela Como Dirigia Um Filme



câmera_ Lara Zanatta .-. aparição vídeo_ Philippe Barcinsky, Maria Sobral, Zé Padilha, Shedi

Marcava os passos, os gestos, consertava as suas falas, pedia uma repetição de ação sem cansaço, retocava a sua face, e justificava: é para fazê-la melhor. Ela até gostava. Não da obsessão alheia, mas de transgredir a mesma. Adorava fugir e quando o aramado e a atenção redobrava, ela fugia para o mais longe possível. Sutilmente. Ele, ao redor, sempre procurando e ela sempre falsamente atendendo às suas perguntas. Dissimulação era a chave de tudo. A vida paralela criada por ela certamente o enlouqueceria, àquele louco-mor, experimentado pelo mundo, desbravador de califórniasrolls e tragos de meias noites. A razão era dele, no entanto, e restava à ela a fuga, embuída do código, do mistério. E absorveu o hábito de muito por costume mentir. Discutia todas as suas conversas mentirosas com apuro de pensamento, tinha designado para si a políticaideologia de vida do raro acesso à verdade. Todos diriam que a conheciam muitíssimo bem, inclusive ele, o seu mais íntimo lado. E ela saberia quem disse o quê do seu pormenor detalhe pessoal através da mentira repassada. Identificaria a fonte da informação imediatamente, sem remorsos. Não queria dar amostras de verdade a ninguém que não fosse suprasumamente selecionado, 'fodam-se estes achistas todos!'. Choraria se preciso para defender a mentira, com veemente dissimulação. E com sua máquina fotográfica sairia à procura do que queria, escondendo as revelações em papel fosco debaixo da cama em horários premeditados, de acordo com a 'loucura' rotineira do lado íntimo. Aquele seu lado onipresente, controlador, ignorante e estimulante que tinha horários de cerco previsíveis e monitoráveis e, na verdade, não sabia nada de nada. E pensava que sabia tudo. Reinava aí, sim, a mais deliciosa, secreta e perversa observação.

Wednesday 22 September 2010

DEsconheciDO

Nesse Desdém Com O Nó Feito
'Desconoces' O Efeito
De Com Voz O Desconhecido
Este Teu Desconhecimento

E Se Me Conhecesses
Saberias Quantos 'Esses'
Eles Seriam De Longe
E O Pouco Encanto Que Os Tange

Não Conheces Bem Meu Rosto
Olhas De Soslaio, Amuado, Em Desgosto
Só Porquê Não Conheces Bem Uma
Ou Porquê Não Sabes Para Onde Isto Ruma

Desconheces O Sentimento
Inventas Desculpas Sem Nenhum Intento
Frio, Loopapático, Desconhecido
Só Para Não Ter O Nosso Ungido

Foges Para Onde Eu Não Conheça
Adiantas Todas Tuas Estranhezas
Fazes Desafio De Papo Em Decassílabos
Pura Barreira Falsa De Estribilhos

E Se Tentas Conhecer O Que Não Sabes?
Porventura Eu Te Encontro Até Em Outra Cidade
O Desconhecido, Sabes, Não É Intangível
Se Acreditares Pode Até Ser Incrível