Thursday 16 September 2010

O Cheiro De Breu

Era dele. O violinista era emocionante. Tinha aprendido com o seu professor infantil que nenhuma perturbação o tiraria da linha musical. E assim foi sempre de uma concentração extrema para a arte. Nenhuma porta alheia aberta à desventura o tiraria do seu prumo musical. Ritmicamente, ele tinha um pé sempre a diposição em compasso simples quatro por quatro. Bastava-lhe. Andava timididamente pelas ruas, pegando ônibus por falta de luxo, e as meninas o ignoravam. Ele não era sensível para o sensual. Era sensível para a arte. A arte e os artistas o reconheciam como promissor. Não as meninas. Aquela trouxinha de pano sintético envolvida em breu Pirastro estava em mãos como digitais. O cheiro impresso como definitivo. Seu violino quatro por quatro não tocava maravilhas mas era um vintage russo. Uma relíquia. O arco não era original mas ninguém notaria isso caso ele estudasse um pouco mais e fosse mais rápido e ágil na sustentação do braço. Os minuetos de Bach tinham pouca importância, mas na escola ele adorava mostrar uma partitura aos mais sabidos e perguntar se ao começar daquela música o arco iria rumar para cima, ou para baixo. Era o crucial do musical para o instrumento, a técnica do artista. A sincronização do movimento é imprescindível para ele, o pequeno violinista. Afinal, qualquer arte que envolva corpo, e não somente mente, começa-se cedo. O violinista ganhou uma bolsa e do Nordeste foi diretamente para Zurique, Suíça. Poucos entenderam. Mas, também ínfimos estudaram. Então, não havia o que entender. Na estratégia do violinista não havia a divindade de nenhum santo envolvida. Havia apenas a dedicação, a ignorância dos sons alheios, a coreografia dos movimentos de arco, e o sentimento pelas notas. Aí, sim. Ela poderia fechar os olhos, estudar oito horas por dia, esfolar seus dedos, não ter unhas, chorar ao não conseguir uma nota dedilhada sem a devida marcação, insistir um pouco mais e dormir. Ao acordar, ele sentiria um silêncio insuportável, comeria, leria, estudaria e não saberia o que faltava. Até que tocasse..... E tudo faria sentido outra vez.