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- Maria Sobral
- É cantora, compositora, atriz e jornalista nordestina. É seduzida por palavras, filmes, sons, chances de dar a cara ao tapa, decolagens de aviões, cheiro de suor masculino, canções complexas, debates verbais, pensamentos ilícitos, baboseira sem compromisso, microfones e canetas. Todos os vídeos têm a autorização da mesma para a sua própria atuação. Convidados nos vídeos não se responsabilizam pelo conteúdo dos textos da autora e assinaram autorização de uso de imagem. Comentários não são necessários. Aceita parcerias literárias e musicais. Contato: mariasobralmaria@gmail.com
Wednesday, 13 October 2010
Dirigia A Vida Dela Como Dirigia Um Filme
câmera_ Lara Zanatta .-. aparição vídeo_ Philippe Barcinsky, Maria Sobral, Zé Padilha, Shedi
Marcava os passos, os gestos, consertava as suas falas, pedia uma repetição de ação sem cansaço, retocava a sua face, e justificava: é para fazê-la melhor. Ela até gostava. Não da obsessão alheia, mas de transgredir a mesma. Adorava fugir e quando o aramado e a atenção redobrava, ela fugia para o mais longe possível. Sutilmente. Ele, ao redor, sempre procurando e ela sempre falsamente atendendo às suas perguntas. Dissimulação era a chave de tudo. A vida paralela criada por ela certamente o enlouqueceria, àquele louco-mor, experimentado pelo mundo, desbravador de califórniasrolls e tragos de meias noites. A razão era dele, no entanto, e restava à ela a fuga, embuída do código, do mistério. E absorveu o hábito de muito por costume mentir. Discutia todas as suas conversas mentirosas com apuro de pensamento, tinha designado para si a políticaideologia de vida do raro acesso à verdade. Todos diriam que a conheciam muitíssimo bem, inclusive ele, o seu mais íntimo lado. E ela saberia quem disse o quê do seu pormenor detalhe pessoal através da mentira repassada. Identificaria a fonte da informação imediatamente, sem remorsos. Não queria dar amostras de verdade a ninguém que não fosse suprasumamente selecionado, 'fodam-se estes achistas todos!'. Choraria se preciso para defender a mentira, com veemente dissimulação. E com sua máquina fotográfica sairia à procura do que queria, escondendo as revelações em papel fosco debaixo da cama em horários premeditados, de acordo com a 'loucura' rotineira do lado íntimo. Aquele seu lado onipresente, controlador, ignorante e estimulante que tinha horários de cerco previsíveis e monitoráveis e, na verdade, não sabia nada de nada. E pensava que sabia tudo. Reinava aí, sim, a mais deliciosa, secreta e perversa observação.