Monday 21 November 2011

Ouvia A Canção De Inês



Em pura madrugada em meio ao... Ou melhor... Em meio, não!: dentro e no centro do descrédito. A canção de outra não era fácil para embalar um sono e, ainda assim, era tão próxima que ninava. Mas, a canção era apenas o pano de fundo do descrédito pessoal e da falta de confiança furtiva, pichada à tinta. Pano de fundo para a cobrança antecipada do agiota de sentimentos, que mudou de idéia e pediu de volta o empréstimo. Pediu de volta o brinde de união. E não satisfeito levou junto na coleta o sorriso, o ronco cansado à noite, a chamada, a curiosidade diária e sentimental, a amorosidade, os detalhes dos defeitos, o som da voz, o pulsar nervoso e apaixonado na laringe, o suor do corpo e o olhar de aceitação. Negou o empréstimo, afinal 'nunca havia acontecido' e disse que aquela tal de Inês, dona da música, tinha pedido todo o que havia sido emprestado pagando por tudo um valor muito maior. Sentimentos, sentimentos... Negócios à parte. E ainda, a Inês precisava mais do que ela. Então, ouvia a canção pensando no descompromisso com a educação que havia naquele lugar. Não havia mais a educação de se ouvir a voz do outro. Limou a comunicação. Somente poderia ouvir-se bem agora a canção, naquele rádio ao longe. E bem calada. Estava quase muda de não ter voz e fez-se uma promessa. Nunca mais aceitaria os empréstimos de sentimentos embrulhados em belos pacotes, por mais ínfimas prestações que esses tais pudessem ter. Deveriam ainda existir doadores sãos por aquele lugar, ou por um lugar próximo daquele. No mais... Ou melhor dito: no menos, no negativo, o que sobrou foi a canção.