Wednesday 22 September 2010

DEsconheciDO

Nesse Desdém Com O Nó Feito
'Desconoces' O Efeito
De Com Voz O Desconhecido
Este Teu Desconhecimento

E Se Me Conhecesses
Saberias Quantos 'Esses'
Eles Seriam De Longe
E O Pouco Encanto Que Os Tange

Não Conheces Bem Meu Rosto
Olhas De Soslaio, Amuado, Em Desgosto
Só Porquê Não Conheces Bem Uma
Ou Porquê Não Sabes Para Onde Isto Ruma

Desconheces O Sentimento
Inventas Desculpas Sem Nenhum Intento
Frio, Loopapático, Desconhecido
Só Para Não Ter O Nosso Ungido

Foges Para Onde Eu Não Conheça
Adiantas Todas Tuas Estranhezas
Fazes Desafio De Papo Em Decassílabos
Pura Barreira Falsa De Estribilhos

E Se Tentas Conhecer O Que Não Sabes?
Porventura Eu Te Encontro Até Em Outra Cidade
O Desconhecido, Sabes, Não É Intangível
Se Acreditares Pode Até Ser Incrível

Tuesday 21 September 2010

Meu Calor



Meu Calor
???????
Está
Vc
??????

Ando, Ando, Ando, Ando
A Pé
Aos Pés
Ando, Ando, Ando, Ando

Passo Mal!!!

E Nada
?

Thursday 16 September 2010

O Cheiro De Breu

Era dele. O violinista era emocionante. Tinha aprendido com o seu professor infantil que nenhuma perturbação o tiraria da linha musical. E assim foi sempre de uma concentração extrema para a arte. Nenhuma porta alheia aberta à desventura o tiraria do seu prumo musical. Ritmicamente, ele tinha um pé sempre a diposição em compasso simples quatro por quatro. Bastava-lhe. Andava timididamente pelas ruas, pegando ônibus por falta de luxo, e as meninas o ignoravam. Ele não era sensível para o sensual. Era sensível para a arte. A arte e os artistas o reconheciam como promissor. Não as meninas. Aquela trouxinha de pano sintético envolvida em breu Pirastro estava em mãos como digitais. O cheiro impresso como definitivo. Seu violino quatro por quatro não tocava maravilhas mas era um vintage russo. Uma relíquia. O arco não era original mas ninguém notaria isso caso ele estudasse um pouco mais e fosse mais rápido e ágil na sustentação do braço. Os minuetos de Bach tinham pouca importância, mas na escola ele adorava mostrar uma partitura aos mais sabidos e perguntar se ao começar daquela música o arco iria rumar para cima, ou para baixo. Era o crucial do musical para o instrumento, a técnica do artista. A sincronização do movimento é imprescindível para ele, o pequeno violinista. Afinal, qualquer arte que envolva corpo, e não somente mente, começa-se cedo. O violinista ganhou uma bolsa e do Nordeste foi diretamente para Zurique, Suíça. Poucos entenderam. Mas, também ínfimos estudaram. Então, não havia o que entender. Na estratégia do violinista não havia a divindade de nenhum santo envolvida. Havia apenas a dedicação, a ignorância dos sons alheios, a coreografia dos movimentos de arco, e o sentimento pelas notas. Aí, sim. Ela poderia fechar os olhos, estudar oito horas por dia, esfolar seus dedos, não ter unhas, chorar ao não conseguir uma nota dedilhada sem a devida marcação, insistir um pouco mais e dormir. Ao acordar, ele sentiria um silêncio insuportável, comeria, leria, estudaria e não saberia o que faltava. Até que tocasse..... E tudo faria sentido outra vez.

Monday 6 September 2010

Não Haveria Ensaio, Trabalho Ou Estudo



vídeo_ grupo de estudos Capobianco - Intercâmbio Sinisterra


Que tirasse da mente daquela mulher o pequeno livro dos 'Coquetéis Oficiais'. Aquele pequeno livro um dia mostrado pelo bartender do estabelecimento do seu noivo era a sua atual obsessão. Desde que tinha chegado de Salvador e tentava ser o que realmente queria ser dedicava-se ao seu crescimento pessoal e até tinha outros livros mais importantes na cabeça. Porém, também desde a chegada daquele comerciante da boêmia em sua vida, com seus livros acompanhados de uísque lidos no balcão de mármore do seu estabelecimento intelectual, a leitura mínima tinha tomado uma proporção estrondosa entre ofertas de drinks e beijos. A obsessão não foi por sua vocação em apreciar a leitura de qualquer texto, inclusive a explicativa dos drinks, e sim pela representação do domínio que aquele livro exercia no negócio do seu noivo. O mesmo já estava empreendido em outros negócios com aquele indo já tão bem. Drinks ainda representavam grande parte do lucro da bar. E ela, perdendo território e atenção antes mesmo do casamento oficial, desesperava-se achando que o manual 'Coquetéis Oficiais' seria o retorno de sua glória. Glória de noiva e futura mulher indispensável. Na leitura dinâmica daquelas folhas notou que não havia um drink feito de suco de beterraba no manual de químicas tragáveis oficial. Perguntava ao bartender se ele teria um outro conhecimento de um drink feito com o suco da beterraba, enquanto o noivo ao seu lado realmente preocupava-se com o caixa, as cadeiras vazias e a administração das mesas do bar. Além da aparência das outras mulheres que frequentavam o seu lugar intelectual. Por insegurança, largou todos os ensaios, trabalhos, estudos, buscas da verdade pessoal para uma intensa semana de 'estágio' nos negócios do noivo. Planejava ser a dona do contracheque daquele futuro lar, quando o mesmo existisse, planejava prender o seu homem através do que para ele era importante, o tal fluxo do caixa. Depois dessa semana, resolveu assumir a gerência temporária do lugar e tornava-se a hostess mais baiana, decotada, intelectualizada, brasileira e agradável daquele lugar. E poucos eram os tempos em que se sentava ao balcão acompanhando o noivo em leituras laceadas de uísque, margarita e mojito. O bartender, outrora amigo, agora odiava a nova gerente que ainda tentava a inovação do drink de beterraba às vezes rindo do fato de que nem o dono do lugar aguentava aquela obsessiva de bolsa enorme a tiracolo e idéias muito delegáveis, contudo pouco executáveis. Nem notava que de nada tinha adiantado a resolução em aprender todos aqueles drinks, misturas, químicas. Era inútil. O que antes era um esforço de amor, companheirismo tinha tornado-se a obrigação de trabalhar para o que ainda não tinha feito dela o que a modos antigos diria-se 'uma mulher honesta'. Enquanto fechava aquele caixa todas as noites, imaginava onde estaria o verdadeiro dono daquele lugar e do seu sentimento deixando mensagens educadas, calmas e desesperadas de 'por favor, liga para mim' nas três caixas postais do outrora amante atencioso. Pensava agora em pedir sociedade do lugar, e tinha a curiosidade consigo mesma de saber se esse pedido poderia ser feito antes ou depois do tal prometido casamento, com medo que isso fosse talvez a ruína dos seus planos. E enquanto isso, presa ao balcão do bar que tanto quis comandar outras vezes, imaginava onde estava o que a oferecia os mais lindos drinks e a levava para casa ébria após a leitura em público de dez agradáveis páginas dos livros que realmente significavam o seu máximo pessoal. Sentia falta do ensaio, do trabalho árduo não remunerado, do estudo e lamentava. Olhou-se no espelho e viu o que era agora. Uma mera dedicadíssima gerente de bar que desesperadamente, e às vezes, dormia com o dono ausente. E assim foi o início do que viria por anos e anos de trapaça e golpes. E assim foi o início do caixa dois...

Wednesday 1 September 2010